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A formação de governo em Platão

  • Foto do escritor: gleidianadantas
    gleidianadantas
  • 30 de set. de 2015
  • 5 min de leitura

1. A alegoria da caverna


O livro “A Republica” é uma obra de maturidade de Platão e tem um peso especial no conjunto de sua obra por ser um dos últimos livros que escreveu. Para esclarecer isso, Platão aí relata uma alegoria. Esse mito funciona como uma certidão de nascimento da filosofia ocidental. Todos os filósofos de certo modo o comentaram.

Inicia Platão a narração do mito da caverna com a fala socrática que trata de uma educação condizente com a natureza e os dotes de cada um. Alguns vivem numa caverna desde tenra idade e lá se encontram aguilhoados. Num segundo momento, Platão explica a forma conotativa do mito em sua linguagem figurada. Ele foi o primeiro a interpretar esse texto, colocando o sob forma analítica e conceitual. O texto expressa a forma pela qual deve o futuro governante ser educado. A subida para a abertura da caverna adentra-se no mundo superior e inteligível. O conhecimento da verdade e do ser passa por sair daquilo que muda para aquilo que não muda, sob a per


spectiva da ideia do bem, causadora do belo e do justo. A perspectiva do mito da caverna é pedagógica. Educar ou ensinar a filosofar em Platão é acordar uma capacidade latente da alma do educando, mas que ainda dormita.

O texto esclarece como deve ser o caminho pedagógico ascensional para conduzir quem recebeu uma natureza filosófica ate a chegada à essência do justo, subalternado e em sintonia com a ideia do bem. O estado ideal, na pessoa do pedagogo rei-filosofo, ordena o pathos do futuro governante para a verdadeira realidade e para não se levar apaixonadamente pelas sutilezas sedutoras da discussão politica. O verdadeiro “politico” não se entusiasma com assembleias politicas, mas se consagra á pesquisa filosófica e conceitual. Por isso, o exercício da politica para Platão será um ato de gratidão ao estado ideal que lhe permitiu ascender ate a contemplação da verdade, do Bem e do Belo.



2. O estadista como administrador público


Os filósofos dificilmente seriam bem educados politicamente num contexto de degenerescência politica como a de Atenas após a guerra do Peloponeso. Atitude que não satisfazia à sede de sabedoria de Sócrates e Platão. Por isso, Platão reconhecia a enorme dificuldade de que sua proposta ideal de Estado pudesse vingar. Ele viveu isso na carne ao tentar educar o tirano Dionísio II, quando acabou preso e foi vendido a um rico mercador. A pior desilusão seria pretender que o estadista desenhado pelo filosofo pudesse ter espaço efetivo diante de uma mediocridade acomodada.

A dialética pressupõe uma concatenação de saberes para uma única meta: o bem em si, que proporciona uma visão ampla e de conjunto sobre o real. Seria como aquele jogador de futebol que não olha somente para a bola ou para quem esta ao seu lado, mas que consegue entender o jogo como um todo, tanto a posição dos companheiros como a dos adversários, a meta e principalmente a dinâmica mesma da partida, com seu ritmo e nível de complexidade.

O fator determinante de conversão da alma do futuro governante será o ensino das disciplinas matemáticas. As primeiras das disciplinas que nos conduzem ao mundo inteligível são insólitas para uma visão atual: a música. Não se deve entender a música como uma prática, mas como uma teoria. Essa é critica de Platão aos pitagóricos: eles não se perguntavam pelo porquê de certos números serem harmoniosos e outros não, questionando-se pela causa desse fenômeno.

A matemática é geralmente associada a algo difícil de compreender. Infelizmente a educação básica brasileira revela a dificuldade de nossos alunos com a abstração matemática. Muitas vezes a filosofia sofre desse mal. Ambas as disciplinas matemática e filosofia são conceituais e abstratas.

O valor da matemática para a formação do estadista não é uma mera digressão. Se a ética é racional, a matemática por afastar a alma do sensível, será pedagogicamente estratégica. Por isso, a politica para Platão não se confunde com o exercício atual da pratica politica. Ao administrar os próprios conflitos interiores o filósofo se habilita para administrar a pólis. Seria como fazer do politico um administrador ou um cientista social, qualificando-o para melhor administrar os conflitos exteriores, diante da diversidade social. Platão preconiza fortalecer o caráter e a experiência pratica da administração da cidade em outros simétricos quinze anos de exercício, como se fosse num estágio. Nesse equilíbrio entre teoria e pratica, temos uma investigação teórica da ideia do Bem que se contrabalança com os conflitos administrativos da cidade; por fim, o estadista estará preparado para a arte de governar aos cinquenta anos de idade.


3. O estadista de Platão: sábio e virtuoso


O estadista é necessariamente sábio e virtuoso. A virtude filosófica segue a parte mais divina e superior da alma. A filosofia se contrapõe a religiosidade calcada nos populares mitos homéricos. Por falar em teologia, Platão foi quem cunhou esse termo, e fez isso exatamente na linha de sua nova proposta politica e cultural. Deus se equipara ao Bem em si. A piedade não se escora na virtude cívica da cidade-estado ateniense com a tradição politica. Os verdadeiros estadistas são a alma do Estado. Não é digno deste nome quem governa de maneira apaixonada e gananciosa, buscando privilégios. O governante personifica o Estado ideal, cujo coração se destina, não a um ganancioso cesto de moedas, mas à “ilha das bem-aventuranças”, o destino do herói segundo Homero. A outra vida se antecipa e se espelha na presente vida contemplativa da investigação filosófica.

A educação do futuro governante deve ser orientada ao Bem em si. A dialética, portanto é imprescindível para a educação do governante. O governante não é alguém que adquire conhecimento, mas quem investiga a essência da realidade em vista da verdade e do Bem em si. A filosofia é abstrata, mas não fica na abstração de um palácio geométrico construídos com tijolos conceituais. A filosofia não é um jogo de palavras, pois nada é mais real do que o Bem.

Para Platão, no entanto, todo o processo educativo tem como função principal preparar os futuros governantes e governados para a formação de um Estado ideal. Para o filósofo, este Estado deverá ser governado pelos filósofos, já que estes são os mais preparados para administrar uma República. Platão acreditava que, por meio do conhecimento, seria possível controlar os instintos, a ganância e a violência. O acesso aos valores da civilização, portanto, funcionaria como antídoto para todo o mal cometido pelos seres humanos contra seus semelhantes. Hoje poucos concordam com isso; a causa principal foram as atrocidades cometidas pelos regimes totalitários.



Bibliografia

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